Mais um estudo científico foi publicado recentemente (agosto/2017), demonstrando que a ingestão de óleo de coco melhora o perfil lipídico, funcionamento dos rins e sistema de defesa antioxidante do fígado, e tem potenciais efeitos benéficos nos índices de risco cardiovascular.
Confira o resumo da publicação (negrito nosso)[1]:
"Este estudo investigou os efeitos in vivo de uma dieta suplementada com óleo de coco durante 5 semanas no perfil lipídico, na condição antioxidante hepática, na função hepatorrenal e nos índices de risco cardiovascular em ratos normais. Os ratos foram divididos aleatoriamente em 3 grupos: 1 de controle e 2 de tratamento (dietas suplementadas com 10% e 15% de óleo de coco) por 5 semanas. Amostras de soro e homogeneizado foram utilizadas para analisar perfil lipídico, marcadores de função hepatorrenal, atividades hepáticas de enzimas antioxidantes e nível de malondialdeído.
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O perfil lipídico de animais alimentados com óleo de coco mostrou redução significativa no colesterol total, nos triglicerídeos e nos níveis de lipoproteínas de baixa densidade (LDL); o nível de lipoproteínas de alta densidade (HDL) aumentou significativamente (p < 0,05) em comparação com o grupo de controle; e houve efeitos benéficos sobre os índices de risco cardiovascular. O nível de malondialdeído, um marcador de peroxidação lipídica, diminuiu notavelmente, e as atividades de enzimas antioxidantes hepáticas - superóxido dismutase, catalase e glutationa peroxidase - aumentaram acentuadamente em ratos alimentados com óleo do coco. A dieta sumplementada com óleo de coco modulou significativamente a creatinina, o sódio, o potássio, o cloreto, a alanina aminotransferase, a aspartato aminotransferase e a fosfatase alcalina em comparação com o grupo de controle. Os resultados sugerem um efeito benéfico do óleo de coco sobre perfil lipídico, estado renal, sistema de defesa antioxidante hepático e índices de risco cardiovascular em ratos."
MAS GORDURA SATURADA NÃO FAZ MAL À SAÚDE?
É poderosa a propaganda negativa veiculada pelas multinacionais farmacêuticas e pelo governo dos EUA (que acaba influenciando fortemente as diretrizes alimentares de outros países) no que se refere às gorduras saturadas.
A verdade é que a "teoria lipídica da doença cardíaca", apesar de continuar sendo oficialmente propagada, já foi refutada pela literatura médica[10].
Na realidade, doenças cardíacas são causadas primariamente por inflamações crônicas, e seus agentes alimentares costumam ser quantidades excessivas de açúcar[11], de gorduras trans (presentes em alimentos industrializados, cujas gorduras são submetidas a processos de hidrogenação)[12] e de ácido linoleico (bastante presente em gorduras poliinsaturadas como as de soja e milho, e que acaba desequilibrando a proporção ômega6/ômega3 da alimentação)[13]. As gorduras saturadas, por outro lado, têm sido repetidamente inocentadas por estudos que mostram que as mesmas não contribuem significativamente para doenças cardíacas[14,15,16,17] e são, na realidade, uma fonte importante de energia para o corpo (principalmente aquelas compostas primariamente por triglicerídeos de cadeia média, como o óleo de coco).
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Um pouco de história
Até aproximadamente a metade do século passado as gorduras saturadas eram amplamente consumidas pela população dos Estados Unidos.
O que substituiu as gorduras saturadas na dieta norte-americana foram as gorduras poliinsaturadas hidrogenadas produzidas a partir do milho e da soja, grãos dos quais os EUA eram (e ainda são) o maior produtor mundial. |
Foram desenvolvidas novas tecnologias que possibilitavam extrair óleos alimentares e margarinas a partir de grãos nunca antes utilizados dessa maneira na cadeia alimentar humana, o que provocou uma verdadeira "bênção" para as culturas de milho e soja. Além disso, para aumentar o prazo de validade desses óleos e margarinas (evitar que eles se tornassem rapidamente rançosos quando não conservados em geladeira), foram utilizados processos de hidrogenação (adição de hidrogênio à cadeia carbônica insaturada), os quais mudam a configuração de parte das ligações duplas do ácido graxo de cis para uma conformação não natural, a trans.
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Para convencer os norte-americanos de que eles deveriam trocar as gorduras tradicionais saturadas por esses novos produtos poliinsaturados, foram iniciadas poderosas campanhas de formação e manipulação da opinião pública a partir da década de 1960 (imagens clicáveis):
ASSOCIAÇÃO AMERICANA DO CORAÇÃO (AHA)
Mas esses estudos não eram (e, como veremos mais adiante, continuam não sendo) imparciais, utilizando-se de metodologias questionáveis para se chegar a conclusões pré-estabelecidas, e têm sido repetidamente refutados por publicações científicas realmente isentas (que infelizemente não são tão amplamente divulgadas ao público).
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Em 2013, por exemplo, um estudo publicado no British Medical Journal resolveu ressucitar e reanalisar os dados do Sydney Diet Heart Study, e chegou a conclusões completamente diferentes sobre a relação entre óleos poliinsaturados e doenças cardíacas (negrito nosso)[18]:
"A recomendação de substituir gorduras saturadas por gorduras poliinsaturadas é um componente chave das diretrizes alimentares mundiais para a redução do risco de doença coronariana. No entanto, os benefícios clínicos do ácido graxo poliinsaturado mais abundante, o ácido linoleico (ômega 6), não foram estabelecidos. Neste estudo, a substituição de gorduras saturadas por ácido linoleico aumentou as taxas de morte por todas as causas, por doenças cardíacas coronárias e por doenças cardiovasculares. Uma meta-análise atualizada dos testes realizados com ácido linoleico não mostrou evidência de benefício cardiovascular. Essas descobertas podem ter implicações importantes para a recomendação alimentar mundial de substituir gorduras saturadas por ácido linoleico (ômega 6)."
ORDEM E PROGRESSO
Interesses similares aos que insituíram a era das gorduras poliinsaturadas nos EUA encontraram terreno fértil no Brasil, que a partir da década de 1970 passou a se firmar como o segundo maior produtor mundial de soja (atrás apenas dos EUA). Gorduras saudáveis e baratas como a saudosa gordura de coco (que correspondia ao que hoje é chamado de óleo de coco refinado ou "sem sabor") foram sendo substituídas pelo óleo de soja, enquanto a margarina foi sendo introduzida como um substituto "salutar" para manteigas de gorduras saturadas:
Atualidade
Apesar de uma série de estudos científicos que a contradizem, a AHA (e suas seguidoras ao redor do mundo, como a Sociedade Brasileira de Cardiologia) se mantém firme e forte na promoção do consumo de gorduras poliinsaturadas.
De acordo com sua recomendação oficial de junho/2017, "gorduras saturadas como manteiga e óleo de coco devem ser evitadas para reduzir o risco de doença cardíaca. Substituir essas gorduras por gorduras poliinsaturadas, como margarina e óleo vegetal, pode reduzir o risco de doença cardíaca em até 30%, aproximadamente o mesmo que as estatinas", afirma a AHA, que recomenda "limitar a ingestão diária de gordura saturada a 6% das calorias diárias ou menos"[19].
Essa recomendação foi enviada aos cardiologistas de todo o mundo, não apenas aos norte-americanos.
Essa recomendação foi enviada aos cardiologistas de todo o mundo, não apenas aos norte-americanos.
MAS COMO A AHA CHEGOU A ESSA CONCLUSÃO?
Selecionando "a dedo" apenas aqueles ensaios clínicos que a permitiriam chegar a suas conclusões pré-fabricadas.
A AHA considerou que apenas quatro ensaios já foram feitos com uma metodologia suficientemente confiável para permitir avaliar as gorduras poliinsaturadas: são os que sobraram depois que a AHA descartou todos os estudos cujos dados não apontavam para as conclusões por ela desejadas. |
Dentre os ensaios descartados encontram-se os maiores já realizados, como por exemplo o da Women's Health Initiative[20]. Esse, que foi o maior e mais caro ensaio clínico sobre o assunto de todos os tempos, foi simplesmente desconsiderado pela AHA devido a conter evidências contrárias à tese que a mesma estava procurando sustentar.
Conforme observado pelo escritor de ciência americano Gary Taubes em sua extensa refutação da recomendação da AHA: "[Essa recomendação] pode ser o exemplo mais flagrante da epidemiologia Bing Crosby [acentuar o positivo e eliminar o negativo] que eu já vi. [A AHA], metodicamente, elimina o negativo e acentua o positivo até que possa construir a tese de que está com certeza, clara e inequivocamente certa"[21].
Conforme observado pelo escritor de ciência americano Gary Taubes em sua extensa refutação da recomendação da AHA: "[Essa recomendação] pode ser o exemplo mais flagrante da epidemiologia Bing Crosby [acentuar o positivo e eliminar o negativo] que eu já vi. [A AHA], metodicamente, elimina o negativo e acentua o positivo até que possa construir a tese de que está com certeza, clara e inequivocamente certa"[21].
A QUEM TUDO ISSO FAVORECE?
Além dos produtores de grãos e de seus subprodutos poliinsaturados, quem vem lucrando com essa campanha de desinformação são as multinacionais farmacêuticas através de vendas bilionárias de drogas como as estatinas (que, além de terem sua eficácia superestimada, apresentam uma série de efeitos colaterais nocivos à saúde[22]).
Outros favorecidos, ainda que de forma indireta, acabam sendo o corporativismo médico, que lucra em simbiose com a indústria farmacêutica, e os próprios governos nacionais, a quem não convém uma maior expectativa de vida de suas populações, pois durante a aposentadoria o cidadão representa um ônus financeiro aos cofres públicos.
PODEMOS CONFIAR NA GRANDE MÍDIA?
Jornalistas, via de regra, são bem-intencionados. Mas, assim como a maioria dos médicos e nutricionistas, eles também são vítimas de uma campanha de desinformação tão poderosa que tem sua origem na própria AHA, uma organização que deveria estar acima de qualquer suspeita.
E aqueles poucos profissionais que se dispõem a investigar a questão a fundo acabam não passando pelo filtro de seus editores: a triste realidade é que os principais veículos de divulgação de notícias são reféns de seus anunciantes e patrocinadores, e controlados, no topo de sua administração, por grupos preocupados apenas com seus próprios interesses.
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Não é de se espantar, portanto, que recentemente a grande mídia tenha sido porta-voz de nova campanha de ataque ao óleo de coco, o qual é na realidade portador de inúmeros benefícios à saúde por ser a maior fonte de ácido láurico encontrada na natureza, além de ser composto por triglicerídeos saturados de cadeia média facilmente metabolizados pelo organismo.
Essa recente ofensiva foi iniciada nos EUA na esteira da já citada recomendação da AHA emitida em junho/2017, e quase que imediatamente ecoada pela grande mídia brasileira (com particular intensidade pela Rede Globo) através de reportagens e publicações sobre supostos malefícios do óleo de coco no que diz respeito ao risco de doenças cardiovasculares.
Essa recente ofensiva foi iniciada nos EUA na esteira da já citada recomendação da AHA emitida em junho/2017, e quase que imediatamente ecoada pela grande mídia brasileira (com particular intensidade pela Rede Globo) através de reportagens e publicações sobre supostos malefícios do óleo de coco no que diz respeito ao risco de doenças cardiovasculares.
Conclusão
Se até mesmo boa parte dos nutricionistas e profissionais da área médica são indoutrinados, desde o início de sua formação acadêmica, à aceitação de determinados paradigmas, o que não dizer da população leiga, submetida a verdadeiro condicionamento mental por parte dos principais meios de comunicação.
Mas a realidade é que alegados malefícios do óleo de coco à saúde do coração são infundados, ao passo que seus benefícios vêm sendo contínua e repetidamente comprovados por publicações científicas ao redor do mundo.
Mas a realidade é que alegados malefícios do óleo de coco à saúde do coração são infundados, ao passo que seus benefícios vêm sendo contínua e repetidamente comprovados por publicações científicas ao redor do mundo.
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REFERÊNCIAS
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- Prior, A., Davidson, F. (1981). Cholesterol, coconuts, and diet on Polynesian atolls: A natural experiment: The Pukapuka and Tokelau island studies. American J of Clinical Nutrition, 34(8), 1552-1561.
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- Gooneratne, J. (2011). Coconut waste treatment for heart ailments. Industrial Technology Institute (Sri Lanka).
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